Notícias

Eduardo Fernandez reflexiona sobre as tendências alentadas por Trump

As tendências alentadas por Trump são todas no sentido contrário do processo civilizatório. Teria sido sua eleição resultado de um império em decadência, em seus últimos estertores? [...]

Será que as instituições norte-americanas conseguirão resgatar e fazer prevalecer a opção pela civilização?

Difícil dizer. A história daquele país contém exemplos de civilização e de barbárie! No primeiro grupo está a fundação da República moderna; muitas ideias dos “pais fundadores”; a recusa, por George Washington, de se tornar rei; muitos dos textos dos “Federalists Papers” apontam na mesma direção. No outro conjunto estão o que fizeram seus nacionais com os habitantes originais da terra e com os africanos levados para lá; outro exemplo são os horrores de Hiroshima e Nagasaki, matando cidadãos de um país agressor, sim, mas já claramente derrotado, com o objetivo de intimidar a até então aliada União Soviética.

Trump substituiu princípios civilizatórios – negociação, direitos humanos, império da lei, respeito ao devido processo legal, tratados internacionais, entre outros – pelo caminho da barbárie – força bruta, arrogância, humilhação dos mais fracos, prepotência, chantagem, distorções das leis, entre outros. Forçou aliados a desviar para fins militares recursos que poderiam ser aplicados em melhoria civilizatória.

Trump sabe, como todos sabemos, que ampliar a extração e queima de petróleo e outros fósseis vai matar ainda mais gente do que mata hoje, mas opta por “drill baby drill”, acelerando as mudanças climáticas; ele sabe deste fenômeno que, ante tantas evidências, é impossível não reconhecer, mas o nega em razão da sua aliança com o grande capital petrolífero e seu sonho de grandeza.

Trump sabe do genocídio em curso em Gaza, mas mantém o apoio aos criminosos que o comentem. Num país onde prevalece – ou prevalecia? – o direito consuetudinário, resgata normas em desuso para violentar famílias de imigrantes, chantagear e tentar destruir universidades acusadas do crime de garantir o direito à livre manifestação pacífica. Diz defender a liberdade de expressão e persegue jornalistas que o criticam.

O governante que quer trilhar o caminho civilizatório ouve opiniões diversas e se cerca de pessoas com coragem de dizer-lhe não; Trump só escuta a si mesmo, decide – sem avaliar as consequências da decisão – para pressionar aliados que ele mesmo torna adversários e nomeou apenas quem só diz sim. Não espanta que seu ainda curto segundo mandato já tenha causado tanta turbulência mundo afora.

Turbulências desagregam, fortalecem o “cada um por si” que leva à barbárie, enquanto civilizar tem, necessariamente, de agregar, estimular a cooperação, respeitar a diversidade.

As tendências alentadas por Trump são todas no sentido contrário do processo civilizatório. Teria sido sua eleição resultado de um império em decadência, em seus últimos estertores? É possível.

Embora seja inegável a perda de importância dos EUA nas últimas décadas – econômica, tecnológica, cultural e como soft power – é também inquestionável que aquela nação continua poderosa em todas essas dimensões, em especial militarmente. Governada por quem promove a barbárie, turbulências, transforma aliados em adversários e se guia pelo sonho de recuperar a grandeza nacional, tenderá ela a usar essa força militar para aplacar o sentimento de frustração com o próprio sonho americano que tomou conta de grande parte da sua população?

Há, lá e cá, em todos os cantos do planeta, forças que buscam civilizar, cooperar, respeitar o outro, aplacar divergências e construir melhor qualidade de vida para a maioria. Tais grupos estão enfraquecidos pelo crescimento dos semelhantes ao Trump. Abandonar o campo que promove a barbárie e abraçar, com determinação, tendências civilizatórias é urgente. Nenhum de nós pode hesitar neste caminho, nesta opção.

E você, leitor, já se decidiu?


Eduardo Fernandez Silva é Mestre em Economia pelo Institute for Social Studies da Universidade de Hague. Foi Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Autor.
Fonte: https://capabrasil.com.br/trump-optou-pela-barbarie-e-voce/

logo-ibs-pequena.png